segunda-feira, 22 de junho de 2009

Butô na Sicília e no globo


O teatro-dança japonês Butô espalha sua rede pelo mundo, assimilando influências tão díspares quanto o flamenco, capoeira, hip hop e a tarantela, por que não?

Em Palermo, na Sicília, a coreógrafa Sayoko Onishi dirige a Accademia Internazionale di Butoh, em colaboração com ninguém menos que Yoshito Ohno, filho de Kazuo, "pai" do butô. Na Alemanha, outros nomes respeitados da dança do gesto, Minako Seki e Tadashi Endo, lecionam regularmente.

Para quem ainda não conhece, o celebrado grupo de butô Sankai Juku - que se apresenta esporadicamente no Brasil - hipnotiza com uma delicadeza sobre-humana e algo como "lentidão, morbidez e ternura beirando o kitsch, estertores, convulsões e sugestões de sangue"...

Por definição, o butô procuraria "o mais profundamente humano a partir do que está além/aquém – no animal, vegetal, mineral ou no sobrenatural, o mundo dos espíritos", considera a Deutsche Welle.

Pós-guerras presentes
O movimento nasceu no pós-guerra, em meio a protestos estudantis no Japão. Antes, os impulsos para romper certos estados de estagnação artística partiram da Ausdruckstanz, dança expressionista criada nas décadas de 1920-30 por Mary Wigman (1886-1973), nascida em Hannover.

Em 1936, Kazuo Ohno (1906) estudara com um aluno de Wigman. Tatsumi Hijikata (1928-1986), o outro pai do butô, interessara-se no final da guerra pela "dança estrangeira". Ele logo confirmou que aquilo que procurava vinha da Alemanha. "Eu havia registrado que – já que a Alemanha era dura – essa dança também devia ser dura".

Uma peça de Hijikata – Kinjiki (Cor proibida), de 1959 – é considerada o nascimento do butô, antes mesmo de o termo ser cunhado. Baseada num romance de Yukio Mishima (1925-1970), tratava de tabus absolutos para a sociedade japonesa.

Anos mais tarde, Hijikata proporia o termo ankoku butoh (aproximadamente "dança rústica da escuridão"). Além da Ausdruckstanz, os criadores do movimento iconoclasta revelariam outras inspirações europeias: o surrealismo e o dadaísmo, e autores franceses "malditos", como Lautréamont, o Marquês de Sade, Antonin Artaud, Jean Genet.

Segundo Hijikata, o butô seria "o cadáver que quer se levantar, a todo preço e apaixonadamente", ou "a luta de coisas invisíveis em meu corpo". Outros de seus aforismos marcantes são: "não se esqueçam de fazer a tentativa de conviver com seus mortos"; "minha dança nasceu da lama".

A capa do álbum "Crying Light" (2008) da banda britânica Antony & the Johnsons, traz o rosto de Kazuo Ohno, hoje com 102 anos. O trabalho é dedicado a ele.

A peça Hibiki – Resonance from far away, do Sankai Juku, abriu este mês o In Transit 09, festival de dança, teatro e performance contemporâneos na Haus der Kulturen der Welt, em Berlim.
(da Deutsche Welle)


Foto: Mary Wigman Collection/Tanzarchiv Leipzig/ in Lago Maggiore

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